terça-feira, 5 de novembro de 2013

Soli Deo Gloria

Por: John Piper 
31 de Outubro de 2013 - Teologia

Usamos a frase glória de Deus com tanta frequência que ela tende a perder sua força bíblica. Mas essa glória, como o sol, não é menos ardente - e não menos benéfica - porque as pessoas a ignoram. No entanto, Deus odeia ser ignorado. “Considerai, pois, nisto, vós que vos esqueceis de Deus, para que não vos despedace, sem haver quem vos livre”. (Salmo 50:22). Então, vamos nos concentrar novamente na glória de Deus. O que é a glória de Deus e quão importante ela é?

O que é a glória de Deus?
A glória de Deus é a santidade de Deus colocada em exposição. Isto é, o valor infinito de Deus manifestado. Perceba como Isaías muda de “santo” para “glória”: “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. (Isaías 6:3). Quando a santidade de Deus enche a terra para que as pessoas vejam, ela chama-se glória.
O significado básico de santo é “separado do comum”. Assim sendo, a santidade de Deus é a sua infinita “separação” de tudo o que é comum. É isso que o faz ser o único infinito - como o diamante mais raro e mais perfeito do mundo - só que não existem outros deuses-diamantes. A singularidade de Deus como sendo o único Deus - Sua “Divindade” - o faz infinitamente valioso e santo.
Ao falar da glória de Deus, a Bíblia admite que este valor infinito teve sua entrada na criação. Brilhou, assim como era. A glória de Deus é o resplendor da sua santidade, a irradiação do seu valor infinito. E quando ela flui, é vista como bela e grandiosa. Ela tem tanto a qualidade de ser infinita quanto a magnitude. Desta forma, podemos definir a glória de Deus como a beleza e a grandeza da sua multiforme perfeição.
Digo “multiforme perfeição”, porque a Bíblia diz que aspectos específicos do ser de Deus contêm glória. Por exemplo, lemos sobre a “gloriosa graça” (Efésios 1:6) e “a glória do seu poder” (2 Tessalonicenses 1:9). O próprio Deus é glorioso, pois ele é a perfeita união de todas as suas multiformes e gloriosas perfeições.
Mas esta definição deve ser qualificada. A Bíblia também fala da glória de Deus antes de ser revelada na criação. Por exemplo, Jesus orou: “e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17:5). Portanto, quero sugerir a seguinte definição: A glória de Deus é o esplendor externo da beleza intrínseca e grandeza da sua multiforme perfeição.
Estou ciente de que palavras apontam para uma definição muito pobre. Eu substituí uma palavra inadequada-glória-por duas palavras inadequadas - beleza e grandeza. No entanto, Deus se revelou a nós em palavras como “a glória de Deus”. Portanto, elas não são palavras sem sentido.
Devemos constantemente nos lembrar de que estamos falando de uma glória que está além de qualquer comparação na criação. “A glória de Deus” é como designamos a beleza e a grandeza infinita da Pessoa que existia antes de qualquer coisa. Essa beleza e grandeza existem sem origem, sem comparação, sem analogia, sem serem julgadas por qualquer critério externo. A glória de Deus é definitiva, o padrão absolutamente original de grandeza e beleza. Toda a grandeza e beleza criadas vêm dela e aponta para ela, mas não podem reproduzi-la de forma adequada e em sua abrangência.
“A glória de Deus” é uma forma de dizer que há uma realidade objetiva e absoluta para a qual apontam todas as maravilhas, respeito, veneração, louvor, honra, elogio e adoração dos seres humanos. Nós fomos feitos para encontrar o nosso mais profundo prazer em admirar o infinitamente admirável - a glória de Deus. Essa glória não é a projeção psicológica do desejo humano insatisfeito sobre a realidade. Pelo contrário, o desejo inconsolável do ser humano é a evidência de que fomos feitos para a glória de Deus.

Quão central é a glória de Deus?
A glória de Deus é o objetivo de todas as coisas (1 Coríntios 10:31;Isaías 43:6-7). A grande missão da Igreja é declarar a glória de Deus entre as nações. “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas”. (Salmo 96:1-3; Ezequiel 39:21; Isaías 66:18-19).

Qual é a nossa esperança?
Nossa máxima esperança é ver a glória de Deus. “E gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5:2). Deus irá “vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória” (Judas 24). Ele irá “conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão” (Romanos 9:23). Jesus, em toda a sua pessoa e obra, é a encarnação e revelação máxima da glória de Deus (João 17:24; Hebreus 1:3).
Além disso, não somente veremos a glória de Deus, mas também teremos participação, em algum sentido, em sua glória. “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada” (1 Pedro 5:1). “Aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8:30). A esperança que é verdadeiramente conhecida e estimada tem um efeito decisivo sobre os nossos valores, escolhas e ações hoje.

Valorizando a Glória de Deus
Conheça a glória de Deus. Estude a glória de Deus, a glória de Cristo. Estude sua alma. Conheça as glórias pelas quais você é seduzido e porque você valoriza glórias que não são a glória de Deus.

Estude a sua própria alma para saber como fazer as glórias do mundo desmoronarem como Dagom, em pedaços miseráveis, ??no chão dos templos do mundo (1 Samuel 5:4). Tenha fome de ver e compartilhar mais da glória de Cristo, a imagem de Deus.

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O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.
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Autor: John Piper
John Piper é um dos ministros e autores cristãos mais proeminentes e atuantes dos dias atuais, atingindo com suas publicações e mensagens...

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Pregue ao descrente, ao crente e ao membro de igreja

26 de Agosto de 2013 - Igreja e Ministério

Para quem os pregadores pregam? Eu recentemente tomei da estante alguns livros sobre pregação e descobri que essa questão raramente é abordada. Os pregadores parecem muito mais preocupados em refinar o seu estilo.
Ainda assim, alguns pastores estão dando atenção aos ouvintes, e eles tendem a focar em dois segmentos da população: os desigrejados e os pós-modernos. James Emery White, presidente do Gordon Conwell e pastor da Igreja Comunidade Mecklenburg em Charlotte, Carolina do Norte, afirmou certa vez que ele explicitamente tinha por alvo os descrentes. Ele pôs dessa forma em uma entrevista dada em 1999:
Mecklenburg é uma igreja direcionada para o visitante, que foi fundada [para] ... focar em pessoas desigrejadas. Por “direcionada ao visitante” eu obviamente quero dizer que os pontos básicos da igreja são planejados para pessoas desigrejadas. De alguma maneira ou forma, nós podemos dar-lhes um empurrãozinho quando eles estão em modo busca, ou nós tentamos ajudá-los a tornarem-se pessoas ativas nessa busca. Pois nem todos os que são desigrejados estão em busca de uma igreja. [1]
Uma vez que o sermão é um desses “pontos básicos”, White seguiu os passos de homens como Bill Hybels, Bob Russel e Rick Warren, os quais se destacam entre os demais pregadores por sua habilidade de falar aos desigrejados. [2]
Um outro grupo de escritores enfatiza a importância de pregar para a mente pós-moderna. O outrora pastor Brian McLaren disse que sua pregação começou a ser afetada, em 2001, ao refletir acerca da aversão pós-moderna à performance e à análise detalhada, juntamente com a sua inclinação para a autenticidade e a narrativa. Agora, narrativa e autenticidade são centrais em sua pregação. [3]
Esses dois exemplos deixam alguns de nós nervosos. Quando um pregador vai muito longe em adaptar-se à sua audiência, a própria mensagem fica comprometida, o que ocorreu tanto nas igrejas “sensíveis ao visitante” como nas igrejas emergentes. Ainda assim, pregadores pregam para pessoas reais, pessoas que são desigrejadas, pós-modernas, e tudo mais que pudermos pensar. O desafio é oferecer alguns pensamentos a todos os tipos de pessoas sentadas na congregação. Este artigo humildemente se esforça para fazê-lo.
Eu sugiro que os pastores preguem com três tipos de pessoas em mente.
Pregue aos não-convertidos
É sempre bom considerar os não-cristãos em um sermão na manhã de domingo, mesmo se sua igreja for pequena e não-cristãos não estiverem presentes. Minha igreja não é grande, porém, mesmo assim, eu presumo que algumas das pessoas sentadas nos bancos não conhecem a Cristo. Algumas delas são cristãos nominais, que podem ter professado Cristo e estar em igrejas por anos, mas ainda necessitam do novo nascimento para trazer-lhes vida verdadeira. Outros são não-cristãos professos que nossos membros convidaram. Ainda há outros que atravessaram a rua em resposta a um cartão de igreja, um boletim, o site, ou o próprio prédio. Em outras palavras, não-cristãos virão.
E daí?
Esclareça o Evangelho
É responsabilidade do pregador esclarecer o evangelho à medida que ele explica a Palavra de Deus. Paulo escreveu:
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. (Romanos 10.9-10)
Nós somos, no fim das contas, ministros do evangelho.  O evangelho não precisa soar da mesma maneira em cada sermão. Mas, seja lá como for explicado, o pastor deve perguntar em face da passagem: “Como ela aponta para o evangelho?”. Mesmo os descrentes podem reconhecer a diferença entre um sermão centrado no evangelho e um sermão no qual o evangelho é apenas encaixado no final.
Minha igreja fica próxima a um seminário, e nós temos muitos homens que estão sendo treinados para ser pastores e que frequentemente perguntam: “O evangelho precisa mesmo estar em cada sermão?”. A resposta é “sim” por pelo menos duas razões. Primeiro, porque o evangelho compreende cada texto da Escritura de Gênesis a Apocalipse. Segundo, porque o não-convertido precisa saber o que significa “confessar Jesus como Senhor e crer no coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos”. (Cristãos necessitam ouvir isso de novo e de novo, também, a fim de crescer na fé!) Mesmo que o descrente tenha ouvido o evangelho dúzias de vezes, Deus o trouxe a mim como pregador – hoje. Então eu quero que o evangelho desafie mais uma vez o seu entendimento do mundo, do pecado e da salvação.
Esclarecer o evangelho é uma das coisas mais importantes que eu posso fazer como pastor.
Pregue expositivamente
Pastores que são sensíveis à presença de não-cristãos os servirão melhor ao pregarem expositivamente. Não-cristãos desejam saber por que nós cremos no que cremos. Uma vez que a nossa doutrina e vida são fundamentadas na Palavra de Deus, nós servimos melhor os desigrejados ao direcioná-los honesta, fiel e claramente para a Escritura, assim como nós fazemos com cristãos.
Um movimento de escritores e líderes de igreja hoje afirma que a mente pós-moderna – igrejada e desigrejada – responde melhor à “pregação narrativa”. Eles argumentam que as pessoas querem ouvir histórias. Tudo bem, eu gosto de histórias. Pregar expositivamente deveria prover aos desigrejados o enredo da Bíblia, o qual, por sua vez, provê um enredo da obra de Deus na humanidade, o qual, por sua vez, provê um enredo para as suas próprias vidas. Os pastores não apenas deveriam lidar com toda a Escritura à medida que pregam expositivamente; eles deveriam fazê-lo com o objetivo de dar aos seus ouvintes “um retrato mais amplo de Deus”. Isso é pregação amigável com o visitante. [4]
O mesmo movimento afirma que a mente pós-moderna valoriza autenticidade. Tudo bem, eu também gosto de autenticidade. É uma desculpa perfeita para pregar expositivamente. Vamos focar menos na forma e mais na mensagem: O que Jesus disse? O que Isaías profetizou? O que Paulo escreveu? E o que as respostas a essas perguntas têm a ver conosco hoje? Isto é o que desejam os não-convertidos que aparecem em nossas igrejas: a verdade bíblica sem penduricalhos.
Se elas irão finalmente concordar com aquela verdade é algo entre elas e Deus; mas o conteúdo do que pregamos é inegociável.
Alcance os não-convertidos
Há diversas coisas que nós podemos fazer para tornar os nossos sermões evangelísticos. Identificar os números grandes e pequenos como capítulos e versículos é útil para o desigrejado. Também é útil dizer-lhe para usar o sumário da Bíblia. Que palavra de conforto para um visitante não-convertido, quando todos ao seu redor parecem achar Obadias com tanta facilidade!
Introduções provocativas ao sermão também ajudam a construir uma ponte para o descrente ao explicar a relevância do texto que está para ser exposto. Por exemplo, no último Domingo de Páscoa, eu preguei em Lucas 5.33-39, no qual os fariseus ficam perplexos com o fato de que os discípulos de Jesus não estavam jejuando. Jesus responde observando que os convidados de um casamento não jejuam enquanto o noivo está presente, e então conta a parábola do vinho novo em odres velhos. Eu intitulei o sermão assim: “São os cristãos mais felizes?”. Aquela introdução foi uma oportunidade para explicar que a alegria verdadeira, duradoura e transformadora consiste em estar na presença do noivo ressurreto, Jesus Cristo. Foram os cristãos ajudados pela introdução? Eu espero que sim, mas eu vi aqueles dois ou três minutos como uma oportunidade especial para alcançar o não-convertido que poderia necessitar de alguma ajuda especial acerca do motivo pelo qual nós nos reunimos em torno da Palavra de Deus.
Todas essas “pequenas” práticas têm também um efeito cumulativo na congregação. Quando os crentes reconhecem que o púlpito é amigável com o não convertido, eles se tornam mais dispostos a trazer os seus amigos não-cristãos. É incorreto pensar que sermos centrado no evangelho signifique que não podemos ser sensíveis ao visitante.
Pregue aos convertidos
Por mais importante que seja pregar para o não-convertido, a tarefa principal do pregador no Dia do Senhor é dirigir-se aos cristãos. Ele deve edificar a igreja local; e a igreja deve ouvir, pronta e desejosamente, a fim de submeter-se a Cristo como o cabeça da igreja. Essa é a nossa principal “audiência”. Assim, na minha própria preparação para o sermão, eu tenho em mente sobretudo os convertidos.
Como então o pregador deve abordar os cristãos?
Repreenda e corrija os cristãos
Nós sabemos a partir de João que o pecado persiste na vida do crente: “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1.10). Há uma espécie de alfinetada nesse versículo, como se João soubesse que os crentes são tentados a minimizar o seu pecado, elevar a sua santificação e negar ao Senhor. Além disso, Paulo escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Assim, quando um pastor está pregando para cristãos, a verdade da Palavra de Deus necessariamente há de repreender e corrigir.
Nenhum pastor quer ser conhecido por abater cristãos. Ainda assim, a fidelidade à Escritura requer que um homem esteja apto para repreender no devido tempo. Essa é uma razão pela qual o chamado para a pregação não deveria ser aceito levianamente. Ser fiel a essa tarefa requer que nos perguntemos em face de cada texto que pregamos: “Como esta passagem repreende ou desafia o cristão?”. Ela desafia a falta de oração, a fofoca, ou a idolatria? A resposta pode levar em consideração a igreja local do pastor ou aquilo que é aplicável a todos os cristãos. De todo modo, pregar sem repreensão e correção não pode ser considerado pregar de modo plenamente bíblico.
Sustente e encoraje os cristãos
Ainda bem, pregar ao convertido significa mais do que repreender e corrigir. Significa trabalhar para sustentar e encorajar os crentes com a Palavra de Deus. O crente é completamente dependente da Palavra. Como Jesus disse, “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4; Dt 8.3). Isso significa que, quando o cristão vem para ouvir o sermão, ele está vindo para ser nutrido pelas palavras da vida.
É claro que o crente pode ser alimentado pela Palavra de Deus durante outros períodos da semana, mas a pregação exerce um papel central em seu sustento. Considere Tito 1.1-3, em que Paulo descreve como a vida eterna se manifesta na Palavra de Deus, através da pregação. Cristãos são nutridos e sustentados por sermões. Uma pergunta para fazer em face de cada texto é: “Como isso sustenta, preserva ou encoraja o cristão?”.
Poucas coisas me encorajam mais no meu ministério de pregação do que isto: a igreja se reúne porque os crentes necessitam da vida que é concedida através da palavra pregada, não porque eles necessitam de mim! Essa é simplesmente a tarefa que eles me deram para executar, a refeição espiritual que eles me comissionaram para preparar. Que privilégio ser usado por Deus para sustentar, nutrir, construir e edificar o seu povo com a sua Palavra!
Santifique e fortaleça os cristãos
O Filho orou para que os filhos do Pai fossem santificados e tornados mais semelhantes a Cristo. Jesus sabia que os seus seguidores haveriam de suportar toda sorte de sofrimentos e escárnios por terem recebido a sua palavra (Jo 17.14), mas ele não orou para que eles fossem tirados do mundo. Ao invés disso, ele orou para que eles fossem santificados. Como os cristãos haveriam de se tornar mais santos? Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). A mensagem de Deus haveria de santificar os filhos de Deus. Cristãos são feitos santos ao apreender e aplicar as Boas Novas e toda a Escritura à sua vida (cf. 2Tm 3.17). Uma palavra santa torna um povo santo.
É claro que a santificação é principalmente uma obra de Deus. Ele é aquele que opera na vida do crente (Fp 2.13; Hb 13.20-21) e que assegura que os crentes terão tudo de que necessitam para dar a Ele glória e honra. Isso é exatamente o que acontece à medida que ele conduz os santos para se congregarem e para ouvirem as verdades da sua Palavra. Não é surpreendente que eles sejam estimulados “ao amor e às boas obras” (Hb 10.24).
Pregadores têm oportunidades gloriosas de serem usados na vida de pecadores a fim de fortalecê-los para a tarefa de prosseguirem na vida cristã. No Salmo 1, o homem bem-aventurado que se deleita na lei de Deus é assemelhado a uma árvore plantada junto às correntes de água, uma árvore que é frutífera e robusta. A analogia não é difícil de entender. O cristão é frutífero e robusto quando se alimenta e se deleita na lei do Senhor. Sermões exercem um papel em guiar o cristão para meditar na lei de Deus. Embora o pregador não possa produzir homens bem-aventurados (ainda bem que isso é tarefa de Deus e do Seu Espírito!), a ele é dado o grande privilégio de alimentar o povo de Deus com a Palavra de Deus. O pregador pode ser como aquelas correntes de água, entregando fielmente a Palavra de Deus e fortalecendo aquela árvore semana após semana, mês após mês, ano após ano.
Diferentemente do contador que confere os livros contábeis no final do mês, ou do diretor executivo que observa a empresa reerguer-se, quem sabe se o pregador jamais verá o fruto que nasce, as vidas que são transformadas, os corações que são tocados! O melhor trabalho de um pastor não pode ser medido deste lado do céu. Esse tipo de fruto não pode ser recolhido em cestos. Não obstante, o fruto está lá. A pregação da Palavra de Deus, por sua graça, santifica e fortalece o pecador e o prepara para as suas próprias obras de graça.
Desafie e edifique os cristãos
Discípulos precisam crescer no seu entendimento e interpretação da Escritura. Eles tendem a ser muito descuidados ao ingerirem os sermões, de modo bastante distinto daqueles bereanos de Atos 17, os quais examinavam o que ouviam a fim de verem se era verdade. Uma pregação expositiva sólida irá desafiar o discípulo dando-lhe algo em que pensar e examinar. Criticando a pregação rasa, James W. Alexander certa vez afirmou:
Nesses sermões, nós encontramos muitas verdades bíblicas valiosas, muitas ilustrações originais e comoventes, muitos argumentos sólidos, exortações pungentes e grande unção. Considerados em si mesmos, e vistos como orações de púlpito, eles não parecem dar margem a sequer uma objeção; ainda assim, como exposições da Escritura, eles são literalmente nada. Eles não esclarecem quaisquer dificuldades no argumento dos escritores inspirados; não fornecem perspectivas amplas do campo no qual o seu assunto se desenvolve; eles podem ser repetidos a vida inteira sem contribuírem no menor grau para educar a congregação em hábitos de sólida interpretação. [6]
Sermões que desafiam e edificam os cristãos não precisam ser ásperos ou difíceis de entender (tal pregação seria infiel e sem sentido, de todo modo!). Ainda assim, os sermões que desafiam e edificam os cristãos são sermões pregados por homens que se debruçaram sobre o texto. Um pastor que dedica o seu tempo à preparação do sermão praticamente não precisa perguntar em face do texto: “Como esta passagem desafia ou edifica o cristão?” – a Palavra de Deus está completamente engajada em alcançar o propósito para o qual Deus a designou (Is 54.10-11). O seu esforço dará fruto à medida que a congregação colhe a recompensa da sua diligência.
Na minha igreja, nós nos esforçamos para ser fiéis à Escritura, seja quando pregamos em uns poucos versos, seja quando pregamos um livro inteiro em poucos sermões, como eu recentemente fiz com o livro de Jó. Pela primeira vez em anos, estudantes universitários estão entrando na igreja porque a pregação os desafia a crescerem. Um casal mais velho recentemente me disse que eles gostam de vir porque os sermões os ajudam a terem discussões espirituais durante o almoço. Eu não acho que alguém diria que fazemos um trabalho maravilhoso de comunicação com o mundo, e certamente ninguém diria que minha pregação é empolgante. Há muito espaço para aperfeiçoar. Mas, pela graça de Deus, nós estamos abrindo a Palavra de Deus – e isso é empolgante e transformador!
Cristãos procuram pregações que são fiéis à Escritura, o que significa pregação que inclui repreensão e correção, sustento e encorajamento, santificação e força, desafio e edificação.
Agora que nós abordamos a pregação tanto para não cristãos como para cristãos, pode parecer um lugar natural para terminarmos. Mas os pregadores devem estar sensíveis a mais uma categoria: os membros de igreja.
Pregue aos membros de igreja como um corpo congregacional
Na maioria das igrejas, a maior parte da congregação é composta pelos homens e mulheres que assumiram um compromisso com aquele lugar, com aquele ministério, e com os demais membros. Isso deveria influenciar a sua pregação? Eu penso que sim.
Paulo descreveu a congregação dos santos em Colossos como “retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus” (Cl 2.19). Esses não eram simplesmente discípulos, eram discípulos arraigados na igreja Colossense os quais cresciam o crescimento que procede de Deus. Em Colossenses 3.15-16, Paulo continua: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. Observe que Paulo dirigiu-se a essa igreja local como um corpo e os lembrou de que eles deveriam estar unidos pela Palavra de Cristo. E isso aconteceria à medida que eles se reunissem juntos para cantar a Escritura e ouvir a Escritura sendo pregada.
Paulo não se dirige aos cristãos, aqui, como cristãos individuais, mas como membros de uma igreja em particular. A sua reunião trazia unidade não porque eles ficavam geograficamente mais próximos, mas porque a Palavra de Cristo vinha habitar neles à medida que eles compartilhavam do mesmo ensino e da mesma admoestação. Eles estavam sob a mesma autoridade porque eles reconheciam Cristo como a sua cabeça.
O mesmo é verdade em uma igreja local hoje, e um dos meios pelos quais a unidade é promovida é através da pregação da Palavra de Deus. João Calvino afirmou isso ao descrever o ofício do pregador. O pregador é aquele que traz unidade ao corpo. Comentando Efésios 4 e discorrendo acerca da unidade da igreja em torno de uma só esperança, Senhor, fé e batismo, Calvino escreveu:
Nestas palavras, Paulo mostra que o ministério dos homens a quem Deus usa para ordenar a Igreja é um elo vital para unir os crentes em um só corpo... O modo como ele [Deus] opera é este: ele distribui os seus dons para a Igreja através de seus ministros e assim demonstra que Ele mesmo está presente ali, ao empregar o poder do seu Espírito, impedindo-os de se tornarem inúteis e infrutíferos. Desse modo, os santos são renovados e o corpo de Cristo é edificado. Desse modo, nós crescemos em todas as coisas para aquele que é a Cabeça e nos vinculamos uns aos outros. Desse modo, nós somos todos trazidos à unidade de Cristo e, à medida que a profecia floresce, nós recebemos os seus servos e não desprezamos a sua doutrina. Quem quer que tente afastar-se deste padrão de ordem na Igreja, ou escarneça dele como se fosse de pequena importância, está conspirando para arruinar a Igreja. [7]
Por que enfatizar tanto os membros da igreja como um corpo coletivo, quando tantas igrejas estão crescendo ao enfatizar os não-membros? Porque a Bíblia enfatiza aqueles indivíduos que são parte da igreja local, como nós podemos ver nas epístolas do Novo Testamento. O cristianismo emergiu no contexto de pessoas de diferentes origens que, juntas, compartilhavam o evangelho – isso era a igreja. E isso tinha implicações radicais. Como Paulo escreveria, “se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1Co 12.26). Essa é uma comunidade que “arregaça as mangas” e se envolve na vida do outro.
A pregação bíblica deveria regularmente dirigir-se aos cristãos não apenas como indivíduos, mas como indivíduos que assumiram um compromisso uns com os outros como um corpo local específico. Pergunte em face de cada texto: “Como esta passagem se aplica à nossa vida como uma comunidade de fé?”. Pode parecer estranho dirigir-se apenas aos membros da igreja, mas que visão constrangedora da igreja isso provê, tanto para os desigrejados como para aqueles cristãos que escolhem flertar com a igreja ao invés de comprometerem-se de fato com ela! O pastor mostra a sua apreciação por aqueles cristãos que tornaram-se membros da igreja e, mais importante, o seu amor pela Palavra de Deus que une os membros de sua igreja quando ele se dirige a eles, diretamente e coletivamente, na pregação.
Conclusão
Enquanto eu meditava na questão “Para quem o pregador prega”, fui impactado com as palavras de Peter Adam, vigário da paróquia anglicana de St. Jude, em Carlton, na Austrália, que escreveu: “se nós somos servos de Deus e de Cristo, e servos da sua Palavra, então o chamado do pregador é também para ser um servo do povo de Deus”. [8] Sim, eu acho que o pregador deve estar sensível aos desigrejados. Mas, se nós focarmos apenas nos desigrejados, a mensagem pode se perder, ou ser de tal modo diluída que o povo de Deus termine ficando desnutrido. Essa não é uma bela visão. É importante pregar para o desigrejado, mas é mais importante focar primariamente nos cristãos e lembrar o valor de dirigir-se regularmente àqueles crentes que assumiram um compromisso com a igreja local.
Notas:
1. "Preaching to the Unchurched: An Interview with James Emery White" em Preaching with Power: Dynamic Insights from Twenty Top Communicators, ed. Michael Duduit (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2006), 227.
2. Ibid., 230.
3. "Preaching to Postmoderns: An Interview with Brian McLaren" em Preaching with Power: Dynamic Insights from Twenty Top Communicators, ed. Michael Duduit (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2006), 126-27.
4. A fim de ajudar na exposição desse enredo, pregadores expositivos considerarão estes pequenos livros úteis: The Symphony of Scripture: Making Sense of the Bible’s Many Themes (1990) por Mark Strom; God’s Big Picture: Tracing the Storyline of the Bible (2002) por Vaughan Roberts; e Gospel and Kingdom, agora disponível em The Goldsworthy Trilogy (2000). Essas introduções à teologia bíblica podem ajudar a comunicar a unidade da Escritura ao pregar ao longo da Bíblia.
5. Ver o capítulo de Mark Dever sobre pregação expositive em Nine Marks of a Healthy Church (Crossway, 2004).
6.  J.W. Alexander, Thoughts on Preaching (Carlisle, PA: Banner of Truth, Date), 239.
7. John Calvin, The Institutes of the Christian Religion, ed. Toney Lane and Hilary Osborne (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1986), 245.
8. Peter Adam, Speaking God’s Words: A Practical Theology of Expository Preaching (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1996), 130.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

Aaron Menikoff é presbítero na Igreja Batista da Avenida Terceira em Louisville, Kentucky, escritor para o Kairos Journal, um jornal on-line para...

sábado, 31 de agosto de 2013

A verdadeira adoração

A adoração não se limita apenas ao louvor, expressado por meio da canção, mas tudo o que fazemos para honra de nosso Deus. Podemos observar esta verdade em João 4.24, o qual o próprio Senhor Jesus nos diz: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade."

Ao nos entregarmos a Cristo, nos arrependendo de nossos pecador e o aceitando como Senhor e Salvador de nossas vidas, tivemos a possibilidade se nascer de novo "uma nova criatura", agora espiritualmente viva e possuindo a mente de Cristo.

Por isso, entendemos que a palavra verdade expressa no versículo anterior quer dizer não apenas com as nossas vozes, pois muitos estão louvando, porém não de coração, mas simplesmente com a sua boca. Acerca dessa verdade, já o profeta dissera: "esse povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim" (Is 29.13). e "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?" (Jr 17. 9).

O homem pode até pensar que está adorando a Deus, mas em muitos casos ele está adorando a si mesmo, pois em vez de exaltar a Deus, ele está recebendo aplausos, fama e sucesso. O louvor a Deus vira uma apresentação para exaltação do próprio homem.

Essa verdade só mudará na mente humana quando formos de fato "praticantes" da palavra de Deus e entenderemos o que é ser um adorador, para que não venhamos a nos enganar a nós mesmos (Tg 1.22).

No momento em que fomos salvos, Deus pôs em nossos lábios um novo cântico para anunciar a Sua glória entre as nações e não para exaltar-nos a nós mesmos.

Os cristãos são os adoradores, que o nosso Senhor de antemão elegeu. Então, procuremos adorar ao nosso Deus como Ele deve ser adorado, com toda a singeleza de coração, tendo em vista que nos formou, antes da fundação do séculos, para Honra e louvor da Sua Glória.

O Salmista Davi expressa muito bem esta verdade ao dizer: "Cantai ao Senhor um cântico novo [...] cantai ao Senhor, bendizei o Seu nome".

O nome do Senhor deve ser exaltado, bendito e proclamado por todos nós, os cristãos. Mas pergunto: como os cristãos estão estão adorando ao Senhor nos dias de hoje?

O Senhor nos elegeu como uma nação santa e exclusiva para proclamar e celebrar o nome daquele nos salvou e entoar um cântico novo diante das nações.

Busquemos a face do Senhor continuamente. Em nossos lábios deve estar o perfeito louvor, mas não apenas em nossos lábis.Nossas vidas devem ser uma vida de luz e não de trevas, sejamos luz para as nações, pois as nossas ações indicam se estamos adorando ao senhor ou não.

O senhor exige de nós uma verdadeira adoração, pois são estes que o Pai procura para seus adoradores (Jo 4.23). A verdadeira adoração exige uma vida de entrega total ao Senhor.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Por que orar?

Por: Wagner Amaral
"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus" (Filipenses 4.6-7).
Por que orar? Qual o sentido da oração, se esta é direcionada a um Deus que tudo sabe, plenamente? As Escrituras revelam que o Senhor, como Onipotente, Onipresente e Onisciente, conhece perfeitamente todas as coisas; inclusive a palavra que ainda não chegou à nossa língua; trazendo a implicação de seu conhecimento não somente das palavras a serem pronunciadas, mas também da motivação do indivíduo - "Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda" (Salmo 139.4).

Este soberano Deus não necessita do som de nossa fala para ouvir. Ele não carece das palavras para ter o entendimento. Ele não precisa do discurso para analisar. Ele tudo sabe, mesmo quando não há palavra alguma; pois, conhece e sonda o interior que dá vida ao exterior - "Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos" (Salmo 139.1-3). Como afirma através do profeta Jeremias, Ele esquadrinha o coração, e prova os pensamentos; para dar a cada um segundo o seu proceder (17.10).

É para este Deus que as exortações bíblicas, como a de Paulo aos filipenses, impele a dirigir as orações. Mas, qual a utilidade abrir o coração e esparramar as alegrias e as angústias se Ele já as conhece? E, pelo visto, melhor do que o próprio que lhe dirige as orações; afinal, ele conhece os segredos da alma; provavelmente, alguns que nem a própria pessoa organiza coerentemente. Então, por que orar?

Segundo a revelação do próprio Senhor, as orações não têm valor algum objetivo para Ele; mas sim para quem ora. As orações possuem um valor pedagógico para o indivíduo que se volta para Deus. Entendamos este valor: (1) Ao orar a pessoa assume a existência de um Deus pessoal que está atento para sua realidade. A constância desta ação, inculca na mente Sua presença, levando a pessoa a sentir-se acompanhada.

(2) Além disso, ao orar a pessoa assume sua dependência do Criador. Na atitude de falar-lhe é como se dissesse: "Eu sei que o Senhor existe; e que posso contar contigo. Aliás, eu preciso do Senhor; de sua orientação, proteção, conforto. Sozinho, estou falido". A prática da oração impulsiona a pessoa à disciplina da dependência; o que redundará em conhecimento, obediência, e bênçãos.

(3) Em tudo isso, a oração possui uma função terapêutica; pois, leva a pessoa a abrir-se; a colocar para fora aquilo que incomoda, que amedronta; e que, se guardado, poderia facilmente redundar em distúrbios emocionais, ou mesmo depressão. Toda esta possibilidade indesejável tende a conduzir à pessoa a escravidão da insegurança; além de torná-la dependente de produtos químicos, estando fadada ao fracasso.

Ao derramar-se diante do Deus pessoal; criador e sustentador do universo, inclusive de sua própria vida, a pessoa liberta-se da ansiedade de seu próprio controle. Por isso, Paulo afirma: "Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças". Assim, ao invés de desesperar-se, o que ora confia, sabendo que o que poderia incomodar está nas mãos do Poderoso. Diante disto, não há outro resultado se não que "a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus".

A oração faz sentido porque Deus a instituiu como meio de comunicação de nossa consciência com Ele. A oração é importantíssima porque a partir dela o Espírito do Senhor trabalha em nosso ser, guiando e confortando-nos para uma vida melhor.

Vale à pena orar!

domingo, 11 de agosto de 2013

As duas primeiras viagens missionárias de Paulo


O Apóstolo Paulo foi um dos maiores evangelistas de todo o tempo, divulgando o evangelho no Mediterrâneo, Ásia chegando até a Europa (em Roma). O início de seu ministério se deu quando ainda estava na cidade de Antioquia, cidade junto ao rio Orontes, chamada hoje de Antaquia (ou Antakya), no sudoeste da Turquia, era uma grande cidade cosmopolita. Nesse lugar, os discípulos foram chamados de cristãos pela primeira vez.[1]
A igreja desta cidade também chamada de Antioquia. Quando Paulo e Barnabé ainda estavam na cidade servindo e jejuando, juntamente com os profetas e mestres, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Paulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, impondo sobre eles as mãos, os despediram.[2] Enviando-os para a missão evangelista a que foram separados.

PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA DE PAULO (47-48 D.C)
Da cidade de Antioquia, Lucas, o escritor do livro de Atos dos Apóstolos registra, Paulo e Barnabé iniciarem sua primeira viagem missionária ao mundo gentio em meados de 47 d.C., sendo eles comissionados pelo grupo de líderes de várias origens étnicas da igreja de Antioquia. Partiram de Selêucia, o porto da cidade, e atual vila de Çevlik, rumo à Chipre, conhecida no Antigo Testamento como Elisá, Cripre era terra natal de Barnabé.[3]

Cipre
Saulo e Barnabé chegaram a Salamina, do lado Leste da ilha, onde pregaram aos judeus nas sinagogas. Os dois missionários viajaram pela ilha até chegar a Pafos, na costa oeste, foi nesta cidade, capital administrativa do procônsul Sérgio Paulo, que o Apóstolo Paulo confrontou o mágico chamado Barjesus (ou Elimas) e usou o poder de Deus para cegá-lo temporariamente. Admirado com os ensinamentos acerca de Jesus, o procônsul se converteu à fé cristã.

Perge e Antioquia da Psídia
De Chipre, Paulo e seus companheiros viajaram para a costa sul da Turquia e chegaram a Perge, cerca de 8 km para o interior. Em Perge, João Marcos deixou Paulo e voltou a Jerusalém.[4] Percorrendo cerca de 175 km em direção ao interior, Paulo chegou a Antioquia de Psídia (próxima da atual cidade turca de Yalvaç). No tempo de Paulo Antioquia de Pisídia era uma colônia romana, portanto, abrigava um contingente de soldados aposentados que haviam se assentado ali ao receberem terras e cidadania romana.
Em seu primeiro sábado, naquele local, Paulo se dirigiu a sinagoga para levar a sua mensagem primeiramente aos judeus. No sábado seguinte quase toda a cidade apareceu para ouvir a palavra do Senhor e, tomados de inveja, os judeus levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé e os expulsaram de lá. Sacudindo simbolicamente o pó dos pés para mostrar que haviam se eximido de qualquer responsabilidade, Paulo e Barnabé deixaram a cidade e viajaram cerca de 120 km até Icônio.

Icônio, Listra e Derbe
Em Icônio Paulo e Barnabé entraram na sinagoga judaica, e falaram de tal modo que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos judeus contra os irmãos. Entretanto demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e prodígios. Mas o povo ficou dividido: uns eram pelos judeus e outros pelos apóstolos. E como se surgisse um tumulto dos gentios e judeus, associados com as autoridades, para ultrajarem os missionários, sabendo-os eles, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia, e circunvizinhança, onde anunciavam o evangelho.[5]
Em Listra (perto da atual Hatunsaray), uma colônia romana a cerca de 30 km de Icônio (Konya), Paulo curou um homem paralítico de nascença. E por isso, Paulo e Barnabé foram aclamados como os deuses Hermes e Zeus, tendo eles grande dificuldade em impedir a multidão de adorá-los.
No dia seguinte Paulo e Barnabé partiram para Derbe, acerca de 100 km de Listra. Paulo pregou em Derbe e fez muitos discípulos. Em seguida os missionários voltaram às cidades que haviam se mostrado hostis, tais quais: Listra, Icônio e Antioquia para fortalecer a fé dos discípulos.
Posteriormente, voltaram para Perge e, de lá, para a Atália, a atual cidade turca de Anatália, de onde navegaram, supostamente passando por Selêucia, de volta a Antioquia no Oroentes. Lucas registra “Alí chegados, reunida a igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles e como abrira aos gentios a porta da fé”.[6]

SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA DE PAULO (49-52 d.C)
De acordo com Lucas, Paulo e Barnabé discordaram sobre a adequação de João Marcos como companheiro de trabalho, pois ele havia desertado Perge, na Panfília. Assim, em 49 d.C., Paulo levou consigo Silas ao invés de Barnabé na viagem que fez pela Síria e Cilícia com o intuito de fortalecer as igrejas.[7]
Em Listra ganharam um novo companheiro: Timóteo, filho de pai grego e mãe judia que aceito o evangelho, e prosseguiram visitando as regiões da Frígia e Galácia.

Trôade
Impelidos pelo Espírito Santo de chegarem a Ásia e Bitínia,[8] os missionários chegaram a Trôade, também chamada de Alexandria Troas, a 20 km ao sul onde ficava Tróia, a cidade que serve de cenário para a Ilíada (poema épico de Homero).
Em Trôade, Paulo teve a visão na qual um homem macedônio suplicava que fosse a Macedônia e o ajudasse. A província da Macedônia abrangia grande parte da região correspondente hoje ao norte da Grécia. É possível que Lucas tenha se juntado ao grupo de Paulo em Trôade, pois é a partir dessa cidade que o escritor começa a fazer o seu relato na primeira pessoa do plural.[9]

Filipos
Paulo e Silas atenderam a visão e navegaram para a ilha de Samotrácia. No dia seguinte chegaram à Europa e desembarcaram em Neápolis, atual porto grego.
De Neápolis, Paulo e Silas se deslocaram uns 16 km para o interior, até a cidade chamada Filipos (em homenagem a Filipe, pai de Alexandre, o Grande). Em Filipos, Paulo levou à fé em Cristo uma mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura da cidade de Tiarira.
Depois de livrar uma escrava possuída de um espírito adivinhador, que dava lucro aos seus senhores, suscitou a ira dos proprietários da jovem, que agarrando a Paulo e Silas até a praça da cidade os colocaram diante das autoridades, sendo açoitados e encarcerados. Porem foram libertos depois de um terremoto, que aproveitando a oportunidade levou o carcereiro a Cristo.

Tessalônica
Os dois missionários continuaram a sua jornada pela Macedônia, passando por Anfípolis e Apolônia até chegar à cidade portuária de Tessalônica, onde ficaram hospedados na casa de Jasom. Ao ouvirem a mensagem de Paulo os judeus se revoltaram e levaram Jasom e vários outros cristãos às autoridades da cidade. Sua alegação: Estes que tem transtornado o mundo chegaram também aqui. Tanto as multidões como as autoridades, ficaram agitadas, ao ouvirem estas palavras, contudo soltaram a Jasom e aos mais, após recebido a fiança estipulada.[10]

Beréia
Paulo e Silas fugiram de Tessalônica durante a noite e foram enviados cerca de 80 km ao sul, para a cidade de Beréia. Lucas comenta sobre os seus habitantes: “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas, de fato, eram assim”. A mensagem de Paulo foi bem recebida pelos moradores de Beréria e várias mulheres e homens gregos, bem como muitos judeus, aceitaram a Cristo. Porém alguns judeus de Tessalônica foram a Beréia e incitaram o povo contra Paulo. Por isso, Paulo deixou Silas e Timóteo na cidade e partiu sozinho para Atenas.

Atenas
Quando Paulo chega a Atenas, a construção mais importante era o Parthenon, um templo dedicado à deusa Atena. Atenas era conhecida como uma cidade universitária, por ter abrigado vários dramaturgos e filósofos importantes, como Platão e Aristóteles.
Paulo ficou profundamente indignado com a idolatria do povo ateniense. Um grupo de estóicos e epicureus começou uma discussão com o apóstolo, sendo ele levado ao famoso conselho do Areópago. Paulo havia visto um altar com a inscrição AO DEUS DESCONHECIDO e usou-a como tema de seu discurso aos membros do conselho.
Após o discurso de Paulo, alguns homens se agregaram a ele e creram, dentre eles, Dionísio, um membro do Areópago. Fica claro, porém, que o impacto da visita de Paulo foi pequeno. Então Paulo seguiu viagem para Corinto.

Corinto
Em Corinto Paulo “encontrou certo judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher”.[11]
A cidade de Corinto ficava num lugar estratégico do istmo do Peloponeso. Possuía dois portos, Cencréia, no golfo Sarônico, 14 km a leste, e Lechaeum, no golfo de Corinto, 2,5 km a oeste. Corinto era capital da província da Acaia (região sul da Grécia), uma colônia romana e cidade portuária conhecida pela sua imoralidade.
De acordo com os registros de Lucas, Paulo passou um ano e meio em Corinto, trabalhando na confecção de tendas e ensinando a palavra de Deus.[12] Sofreu oposição intensa dos judeus que o levaram a presença de Gaio, o procônsul romano da Acaia. Porém, Gaio não quis se envolver e os expulsou do tribunal. Então todos agarraram a Sóstenes, o principal da sinagoga, e o espancavam diante do tribunal.[13]
Depois de passar um ano e meio em Corinto, Paulo navegou para Éfeso, na atual Turquia.







[1] Atos 11: 26
[2] Atos 13: 1-3
[3] Atos 4: 36
[4] Atos 13: 13
[5] Atos 14: 1-7
[6] Atos 14: 27
[7] Atos 15: 37-41
[8] Atos 16: 6,7
[9] Atos 16: 12
[10] Atos 17: 6-9
[11] Atos 18: 1,2
[12] Atos 18: 11
[13] Atos 18: 12-17