Para quem os pregadores pregam? Eu recentemente tomei da estante alguns
livros sobre pregação e descobri que essa questão raramente é abordada. Os
pregadores parecem muito mais preocupados em refinar o seu estilo.
Ainda assim, alguns pastores estão dando atenção aos ouvintes, e eles
tendem a focar em dois segmentos da população: os desigrejados e os
pós-modernos. James Emery White, presidente do Gordon Conwell e pastor da
Igreja Comunidade Mecklenburg em Charlotte, Carolina do Norte, afirmou certa
vez que ele explicitamente tinha por alvo os descrentes. Ele pôs dessa forma em
uma entrevista dada em 1999:
Mecklenburg é uma igreja direcionada para o visitante, que foi fundada
[para] ... focar em pessoas desigrejadas. Por “direcionada ao visitante” eu
obviamente quero dizer que os pontos básicos da igreja são planejados para
pessoas desigrejadas. De alguma maneira ou forma, nós podemos dar-lhes um
empurrãozinho quando eles estão em modo busca, ou nós tentamos ajudá-los a
tornarem-se pessoas ativas nessa busca. Pois nem todos os que são desigrejados
estão em busca de uma igreja. [1]
Uma vez que o sermão é um desses “pontos básicos”, White seguiu os
passos de homens como Bill Hybels, Bob Russel e Rick Warren, os quais se
destacam entre os demais pregadores por sua habilidade de falar aos
desigrejados. [2]
Um outro grupo de escritores enfatiza a importância de pregar para a
mente pós-moderna. O outrora pastor Brian McLaren disse que sua pregação
começou a ser afetada, em 2001, ao refletir acerca da aversão pós-moderna à
performance e à análise detalhada, juntamente com a sua inclinação para a
autenticidade e a narrativa. Agora, narrativa e autenticidade são centrais em
sua pregação. [3]
Esses dois exemplos deixam alguns de nós nervosos. Quando um pregador
vai muito longe em adaptar-se à sua audiência, a própria mensagem fica
comprometida, o que ocorreu tanto nas igrejas “sensíveis ao visitante” como nas
igrejas emergentes. Ainda assim, pregadores pregam para pessoas reais, pessoas
que são desigrejadas, pós-modernas, e tudo mais que pudermos pensar. O desafio
é oferecer alguns pensamentos a todos os tipos de pessoas sentadas na
congregação. Este artigo humildemente se esforça para fazê-lo.
Eu sugiro que os pastores preguem com três tipos de pessoas em mente.
Pregue aos não-convertidos
É sempre bom considerar os não-cristãos em um sermão na
manhã de domingo, mesmo se sua igreja for pequena e não-cristãos não estiverem
presentes. Minha igreja não é grande, porém, mesmo assim, eu presumo que
algumas das pessoas sentadas nos bancos não conhecem a Cristo. Algumas delas
são cristãos nominais, que podem ter professado Cristo e estar em igrejas por
anos, mas ainda necessitam do novo nascimento para trazer-lhes vida verdadeira.
Outros são não-cristãos professos que nossos membros convidaram. Ainda há
outros que atravessaram a rua em resposta a um cartão de igreja, um boletim, o
site, ou o próprio prédio. Em outras palavras, não-cristãos virão.
E daí?
Esclareça o Evangelho
É responsabilidade do pregador esclarecer o evangelho à medida que ele
explica a Palavra de Deus. Paulo escreveu:
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o
coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.
(Romanos 10.9-10)
Nós somos, no fim das contas, ministros do evangelho. O evangelho
não precisa soar da mesma maneira em cada sermão. Mas, seja lá como for
explicado, o pastor deve perguntar em face da passagem: “Como ela aponta para o
evangelho?”. Mesmo os descrentes podem reconhecer a diferença entre um sermão
centrado no evangelho e um sermão no qual o evangelho é apenas encaixado no
final.
Minha igreja fica próxima a um seminário, e nós temos muitos homens que
estão sendo treinados para ser pastores e que frequentemente perguntam: “O
evangelho precisa mesmo estar em cada sermão?”. A resposta é “sim” por pelo menos
duas razões. Primeiro, porque o evangelho compreende cada texto da Escritura de
Gênesis a Apocalipse. Segundo, porque o não-convertido precisa saber o que
significa “confessar Jesus como Senhor e crer no coração que Deus o ressuscitou
dentre os mortos”. (Cristãos necessitam ouvir isso de novo e de novo, também, a
fim de crescer na fé!) Mesmo que o descrente tenha ouvido o evangelho dúzias de
vezes, Deus o trouxe a mim como pregador – hoje. Então eu quero que o evangelho
desafie mais uma vez o seu entendimento do mundo, do pecado e da salvação.
Esclarecer o evangelho é uma das coisas mais importantes que eu posso
fazer como pastor.
Pregue expositivamente
Pastores que são sensíveis à presença de não-cristãos os servirão melhor
ao pregarem expositivamente. Não-cristãos desejam saber por que nós cremos no
que cremos. Uma vez que a nossa doutrina e vida são fundamentadas na Palavra de
Deus, nós servimos melhor os desigrejados ao direcioná-los honesta, fiel e
claramente para a Escritura, assim como nós fazemos com cristãos.
Um movimento de escritores e líderes de igreja hoje afirma que a mente
pós-moderna – igrejada e desigrejada – responde melhor à “pregação narrativa”.
Eles argumentam que as pessoas querem ouvir histórias. Tudo bem, eu gosto de
histórias. Pregar expositivamente deveria prover aos desigrejados o enredo da
Bíblia, o qual, por sua vez, provê um enredo da obra de Deus na humanidade, o
qual, por sua vez, provê um enredo para as suas próprias vidas. Os pastores não
apenas deveriam lidar com toda a Escritura à medida que pregam expositivamente;
eles deveriam fazê-lo com o objetivo de dar aos seus ouvintes “um retrato mais
amplo de Deus”. Isso é pregação amigável com o visitante. [4]
O mesmo movimento afirma que a mente pós-moderna valoriza autenticidade.
Tudo bem, eu também gosto de autenticidade. É uma desculpa perfeita para pregar
expositivamente. Vamos focar menos na forma e mais na mensagem: O que Jesus
disse? O que Isaías profetizou? O que Paulo escreveu? E o que as respostas a
essas perguntas têm a ver conosco hoje? Isto é o que desejam os não-convertidos
que aparecem em nossas igrejas: a verdade bíblica sem penduricalhos.
Se elas irão finalmente concordar com aquela verdade é algo entre elas e
Deus; mas o conteúdo do que pregamos é inegociável.
Alcance os não-convertidos
Há diversas coisas que nós podemos fazer para tornar os nossos sermões
evangelísticos. Identificar os números grandes e pequenos como capítulos e
versículos é útil para o desigrejado. Também é útil dizer-lhe para usar o
sumário da Bíblia. Que palavra de conforto para um visitante não-convertido,
quando todos ao seu redor parecem achar Obadias com tanta facilidade!
Introduções provocativas ao sermão também ajudam a construir uma ponte
para o descrente ao explicar a relevância do texto que está para ser exposto.
Por exemplo, no último Domingo de Páscoa, eu preguei em Lucas 5.33-39, no qual
os fariseus ficam perplexos com o fato de que os discípulos de Jesus não
estavam jejuando. Jesus responde observando que os convidados de um casamento
não jejuam enquanto o noivo está presente, e então conta a parábola do vinho
novo em odres velhos. Eu intitulei o sermão assim: “São os cristãos mais
felizes?”. Aquela introdução foi uma oportunidade para explicar que a alegria
verdadeira, duradoura e transformadora consiste em estar na presença do noivo
ressurreto, Jesus Cristo. Foram os cristãos ajudados pela introdução? Eu espero
que sim, mas eu vi aqueles dois ou três minutos como uma oportunidade especial
para alcançar o não-convertido que poderia necessitar de alguma ajuda especial
acerca do motivo pelo qual nós nos reunimos em torno da Palavra de Deus.
Todas essas “pequenas” práticas têm também um efeito cumulativo na
congregação. Quando os crentes reconhecem que o púlpito é amigável com o não
convertido, eles se tornam mais dispostos a trazer os seus amigos não-cristãos.
É incorreto pensar que sermos centrado no evangelho signifique que não podemos
ser sensíveis ao visitante.
Pregue aos convertidos
Por mais importante que seja pregar para o não-convertido, a tarefa
principal do pregador no Dia do Senhor é dirigir-se aos cristãos. Ele deve
edificar a igreja local; e a igreja deve ouvir, pronta e desejosamente, a fim
de submeter-se a Cristo como o cabeça da igreja. Essa é a nossa principal
“audiência”. Assim, na minha própria preparação para o sermão, eu tenho em
mente sobretudo os convertidos.
Como então o pregador deve abordar os cristãos?
Repreenda e corrija os cristãos
Nós sabemos a partir de João que o pecado persiste na vida do crente:
“Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua
palavra não está em nós” (1Jo 1.10). Há uma espécie de alfinetada nesse
versículo, como se João soubesse que os crentes são tentados a minimizar o seu
pecado, elevar a sua santificação e negar ao Senhor. Além disso, Paulo
escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Assim,
quando um pastor está pregando para cristãos, a verdade da Palavra de Deus
necessariamente há de repreender e corrigir.
Nenhum pastor quer ser conhecido por abater cristãos. Ainda assim, a
fidelidade à Escritura requer que um homem esteja apto para repreender no
devido tempo. Essa é uma razão pela qual o chamado para a pregação não deveria
ser aceito levianamente. Ser fiel a essa tarefa requer que nos perguntemos em
face de cada texto que pregamos: “Como esta passagem repreende ou desafia o
cristão?”. Ela desafia a falta de oração, a fofoca, ou a idolatria? A resposta
pode levar em consideração a igreja local do pastor ou aquilo que é aplicável a
todos os cristãos. De todo modo, pregar sem repreensão e correção não pode ser
considerado pregar de modo plenamente bíblico.
Sustente e encoraje os cristãos
Ainda bem, pregar ao convertido significa mais do que repreender e
corrigir. Significa trabalhar para sustentar e encorajar os crentes com a
Palavra de Deus. O crente é completamente dependente da Palavra. Como Jesus
disse, “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca
de Deus” (Mt 4.4; Dt 8.3). Isso significa que, quando o cristão vem para ouvir
o sermão, ele está vindo para ser nutrido pelas palavras da vida.
É claro que o crente pode ser alimentado pela Palavra de Deus durante
outros períodos da semana, mas a pregação exerce um papel central em seu
sustento. Considere Tito 1.1-3, em que Paulo descreve como a vida eterna se
manifesta na Palavra de Deus, através da pregação. Cristãos são nutridos e
sustentados por sermões. Uma pergunta para fazer em face de cada texto é: “Como
isso sustenta, preserva ou encoraja o cristão?”.
Poucas coisas me encorajam mais no meu ministério de pregação do que
isto: a igreja se reúne porque os crentes necessitam da vida
que é concedida através da palavra pregada, não porque eles necessitam de mim!
Essa é simplesmente a tarefa que eles me deram para executar, a refeição
espiritual que eles me comissionaram para preparar. Que privilégio ser usado
por Deus para sustentar, nutrir, construir e edificar o seu povo com a sua Palavra!
Santifique e fortaleça os cristãos
O Filho orou para que os filhos do Pai fossem santificados e tornados
mais semelhantes a Cristo. Jesus sabia que os seus seguidores haveriam de
suportar toda sorte de sofrimentos e escárnios por terem recebido a sua palavra
(Jo 17.14), mas ele não orou para que eles fossem tirados do mundo. Ao invés
disso, ele orou para que eles fossem santificados. Como os cristãos haveriam de
se tornar mais santos? Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a
verdade” (Jo 17.17). A mensagem de Deus haveria de santificar os filhos de
Deus. Cristãos são feitos santos ao apreender e aplicar as Boas Novas e toda a
Escritura à sua vida (cf. 2Tm 3.17). Uma palavra santa torna um povo santo.
É claro que a santificação é principalmente uma obra de Deus. Ele é
aquele que opera na vida do crente (Fp 2.13; Hb 13.20-21) e que assegura que os
crentes terão tudo de que necessitam para dar a Ele glória e honra. Isso é
exatamente o que acontece à medida que ele conduz os santos para se congregarem
e para ouvirem as verdades da sua Palavra. Não é surpreendente que eles sejam
estimulados “ao amor e às boas obras” (Hb 10.24).
Pregadores têm oportunidades gloriosas de serem usados na vida de
pecadores a fim de fortalecê-los para a tarefa de prosseguirem na vida cristã.
No Salmo 1, o homem bem-aventurado que se deleita na lei de Deus é assemelhado
a uma árvore plantada junto às correntes de água, uma árvore que é frutífera e
robusta. A analogia não é difícil de entender. O cristão é frutífero e robusto
quando se alimenta e se deleita na lei do Senhor. Sermões exercem um papel em
guiar o cristão para meditar na lei de Deus. Embora o pregador não possa
produzir homens bem-aventurados (ainda bem que isso é tarefa de Deus e do Seu
Espírito!), a ele é dado o grande privilégio de alimentar o povo de Deus com a
Palavra de Deus. O pregador pode ser como aquelas correntes de água, entregando
fielmente a Palavra de Deus e fortalecendo aquela árvore semana após semana,
mês após mês, ano após ano.
Diferentemente do contador que confere os livros contábeis no final do
mês, ou do diretor executivo que observa a empresa reerguer-se, quem sabe se o
pregador jamais verá o fruto que nasce, as vidas que são transformadas, os
corações que são tocados! O melhor trabalho de um pastor não pode ser medido
deste lado do céu. Esse tipo de fruto não pode ser recolhido em cestos. Não
obstante, o fruto está lá. A pregação da Palavra de Deus, por sua graça,
santifica e fortalece o pecador e o prepara para as suas próprias obras de
graça.
Desafie e edifique os cristãos
Discípulos precisam crescer no seu entendimento e interpretação da
Escritura. Eles tendem a ser muito descuidados ao ingerirem os sermões, de modo
bastante distinto daqueles bereanos de Atos 17, os quais examinavam o que
ouviam a fim de verem se era verdade. Uma pregação expositiva sólida irá
desafiar o discípulo dando-lhe algo em que pensar e examinar. Criticando a
pregação rasa, James W. Alexander certa vez afirmou:
Nesses sermões, nós encontramos muitas verdades bíblicas valiosas,
muitas ilustrações originais e comoventes, muitos argumentos sólidos,
exortações pungentes e grande unção. Considerados em si mesmos, e vistos como
orações de púlpito, eles não parecem dar margem a sequer uma objeção; ainda
assim, como exposições da Escritura, eles são literalmente nada. Eles não
esclarecem quaisquer dificuldades no argumento dos escritores inspirados; não
fornecem perspectivas amplas do campo no qual o seu assunto se desenvolve; eles
podem ser repetidos a vida inteira sem contribuírem no menor grau para educar a
congregação em hábitos de sólida interpretação. [6]
Sermões que desafiam e edificam os cristãos não precisam ser ásperos ou
difíceis de entender (tal pregação seria infiel e sem sentido, de todo modo!).
Ainda assim, os sermões que desafiam e edificam os cristãos são sermões
pregados por homens que se debruçaram sobre o texto. Um pastor que dedica o seu
tempo à preparação do sermão praticamente não precisa perguntar em face do
texto: “Como esta passagem desafia ou edifica o cristão?” – a Palavra de Deus
está completamente engajada em alcançar o propósito para o qual Deus a designou
(Is 54.10-11). O seu esforço dará fruto à medida que a congregação colhe a
recompensa da sua diligência.
Na minha igreja, nós nos esforçamos para ser fiéis à Escritura, seja
quando pregamos em uns poucos versos, seja quando pregamos um livro inteiro em
poucos sermões, como eu recentemente fiz com o livro de Jó. Pela primeira vez
em anos, estudantes universitários estão entrando na igreja porque a pregação
os desafia a crescerem. Um casal mais velho recentemente me disse que eles
gostam de vir porque os sermões os ajudam a terem discussões espirituais
durante o almoço. Eu não acho que alguém diria que fazemos um trabalho
maravilhoso de comunicação com o mundo, e certamente ninguém diria que minha
pregação é empolgante. Há muito espaço para aperfeiçoar. Mas, pela graça de
Deus, nós estamos abrindo a Palavra de Deus – e isso é empolgante
e transformador!
Cristãos procuram pregações que são fiéis à Escritura, o que significa
pregação que inclui repreensão e correção, sustento e encorajamento,
santificação e força, desafio e edificação.
Agora que nós abordamos a pregação tanto para não cristãos como para
cristãos, pode parecer um lugar natural para terminarmos. Mas os pregadores
devem estar sensíveis a mais uma categoria: os membros de igreja.
Pregue aos membros de igreja como um corpo congregacional
Na maioria das igrejas, a maior parte da congregação é composta pelos
homens e mulheres que assumiram um compromisso com aquele lugar, com aquele
ministério, e com os demais membros. Isso deveria influenciar a sua pregação?
Eu penso que sim.
Paulo descreveu a congregação dos santos em Colossos como “retendo a
cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e
ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus” (Cl 2.19). Esses não eram
simplesmente discípulos, eram discípulos arraigados na igreja Colossense os
quais cresciam o crescimento que procede de Deus. Em Colossenses 3.15-16, Paulo
continua: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também,
fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a
palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em
vosso coração”. Observe que Paulo dirigiu-se a essa igreja local como um corpo
e os lembrou de que eles deveriam estar unidos pela Palavra de Cristo. E isso aconteceria
à medida que eles se reunissem juntos para cantar a Escritura e ouvir a
Escritura sendo pregada.
Paulo não se dirige aos cristãos, aqui, como cristãos individuais, mas
como membros de uma igreja em particular. A sua reunião trazia unidade não porque
eles ficavam geograficamente mais próximos, mas porque a Palavra de Cristo
vinha habitar neles à medida que eles compartilhavam do mesmo ensino e da mesma
admoestação. Eles estavam sob a mesma autoridade porque eles reconheciam Cristo
como a sua cabeça.
O mesmo é verdade em uma igreja local hoje, e um dos meios pelos quais a
unidade é promovida é através da pregação da Palavra de Deus. João Calvino
afirmou isso ao descrever o ofício do pregador. O pregador é aquele que traz
unidade ao corpo. Comentando Efésios 4 e discorrendo acerca da unidade da
igreja em torno de uma só esperança, Senhor, fé e batismo, Calvino escreveu:
Nestas palavras, Paulo mostra que o ministério dos homens a quem Deus
usa para ordenar a Igreja é um elo vital para unir os crentes em um só corpo...
O modo como ele [Deus] opera é este: ele distribui os seus dons para a Igreja
através de seus ministros e assim demonstra que Ele mesmo está presente ali, ao
empregar o poder do seu Espírito, impedindo-os de se tornarem inúteis e infrutíferos.
Desse modo, os santos são renovados e o corpo de Cristo é edificado. Desse
modo, nós crescemos em todas as coisas para aquele que é a Cabeça e nos
vinculamos uns aos outros. Desse modo, nós somos todos trazidos à unidade de
Cristo e, à medida que a profecia floresce, nós recebemos os seus servos e não
desprezamos a sua doutrina. Quem quer que tente afastar-se deste padrão de
ordem na Igreja, ou escarneça dele como se fosse de pequena importância, está
conspirando para arruinar a Igreja. [7]
Por que enfatizar tanto os membros da igreja como um corpo coletivo,
quando tantas igrejas estão crescendo ao enfatizar os não-membros? Porque a
Bíblia enfatiza aqueles indivíduos que são parte da igreja local, como nós
podemos ver nas epístolas do Novo Testamento. O cristianismo emergiu no
contexto de pessoas de diferentes origens que, juntas, compartilhavam o
evangelho – isso era a igreja. E isso tinha implicações radicais. Como Paulo
escreveria, “se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é
honrado, com ele todos se regozijam” (1Co 12.26). Essa é uma comunidade que
“arregaça as mangas” e se envolve na vida do outro.
A pregação bíblica deveria regularmente dirigir-se aos cristãos não
apenas como indivíduos, mas como indivíduos que assumiram um compromisso uns
com os outros como um corpo local específico. Pergunte em face de cada texto:
“Como esta passagem se aplica à nossa vida como uma comunidade de fé?”. Pode
parecer estranho dirigir-se apenas aos membros da igreja, mas que visão
constrangedora da igreja isso provê, tanto para os desigrejados como para
aqueles cristãos que escolhem flertar com a igreja ao invés de comprometerem-se
de fato com ela! O pastor mostra a sua apreciação por aqueles cristãos que
tornaram-se membros da igreja e, mais importante, o seu amor pela Palavra de
Deus que une os membros de sua igreja quando ele se dirige a eles, diretamente
e coletivamente, na pregação.
Conclusão
Enquanto eu meditava na questão “Para quem o pregador prega”, fui
impactado com as palavras de Peter Adam, vigário da paróquia anglicana de St.
Jude, em Carlton, na Austrália, que escreveu: “se nós somos servos de Deus e de
Cristo, e servos da sua Palavra, então o chamado do pregador é também para ser
um servo do povo de Deus”. [8] Sim, eu acho que o pregador deve estar sensível
aos desigrejados. Mas, se nós focarmos apenas nos desigrejados, a mensagem pode
se perder, ou ser de tal modo diluída que o povo de Deus termine ficando
desnutrido. Essa não é uma bela visão. É importante pregar para o desigrejado,
mas é mais importante focar primariamente nos cristãos e lembrar o valor de
dirigir-se regularmente àqueles crentes que assumiram um compromisso com a igreja
local.
Notas:
1. "Preaching to the
Unchurched: An Interview with James Emery White" em Preaching with
Power: Dynamic Insights from Twenty Top Communicators, ed. Michael
Duduit (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2006), 227.
2. Ibid., 230.
3. "Preaching to Postmoderns:
An Interview with Brian McLaren" em Preaching with Power: Dynamic
Insights from Twenty Top Communicators, ed. Michael Duduit (Grand
Rapids, MI: Baker Books, 2006), 126-27.
4. A fim de ajudar na
exposição desse enredo, pregadores expositivos considerarão estes pequenos
livros úteis: The Symphony of Scripture: Making Sense of the Bible’s
Many Themes (1990) por Mark Strom; God’s Big
Picture: Tracing the Storyline of the Bible (2002) por Vaughan
Roberts; e Gospel and Kingdom, agora disponível em The
Goldsworthy Trilogy (2000). Essas
introduções à teologia bíblica podem ajudar a comunicar a unidade da Escritura
ao pregar ao longo da Bíblia.
5. Ver o capítulo de Mark Dever sobre pregação expositive em Nine
Marks of a Healthy Church (Crossway, 2004).
6. J.W.
Alexander, Thoughts on Preaching (Carlisle, PA: Banner of
Truth, Date), 239.
7. John Calvin, The
Institutes of the Christian Religion, ed. Toney Lane and Hilary
Osborne (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1986), 245.
8. Peter Adam, Speaking
God’s Words: A Practical Theology of Expository Preaching (Downers
Grove, IL: InterVarsity Press, 1996), 130.
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esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que
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Aaron
Menikoff é presbítero na Igreja Batista da Avenida Terceira em Louisville,
Kentucky, escritor para o Kairos Journal, um jornal on-line para...